falando sobre covers
quando fazem sentido porque os artistas vivem o que cantam
eu tenho uma opinião muito específica sobre covers — aprovo, mas não pode fugir muito do que faz a música o que ela é originalmente, tipo tirar percussão de uma música de axé — mas às vezes tem regravações MUITO boas porque os envolvidos vivem o que estão cantando.
exemplo: “My Prerogative”
“My Prerogative” é um clássico do R&B/New Jack Swing que é a canção-assinatura de Bobby Brown porque é justamente o que ele estava vivendo no período de “Don’t Be Cruel”, seu álbum mais relevante: ele era um bad boy do gênero, tentando sair da alcunha de membro de boy band (New Edition, o blueprint para o Backstreet Boys), só que conhecido por suas polêmicas, casos do que realmente pela música.
era muita marra e pouca música — e em “My Prerogative”, onde ele era um dos compositores, incluindo o produtor da faixa, Teddy Riley, um dos grandes nomes do gênero (e que viria a trabalhar com Michael Jackson depois em “Dangerous” — a fase “follower” dele), Brown diz que não se importa com que os outros dizem dele, vive a vida de acordo com as próprias regras, na grana, no amor (ou no sexo) ou nos relacionamentos.
com Britney Spears — que regrava a música para o Greatest Hits, com uma nova roupagem, mais pop, atualizada para os anos 2000, algumas mudanças para uma perspectiva feminina e um toque mais sensual dentro da agressividade natural da faixa — a música é um reflexo da busca pela liberdade, por viver de acordo com suas próprias regras, sem se preocupar com a lupa que imprensa, família, empresários, impunham na vida da cantora.
inicialmente, eu achava a versão um tanto pálida em relação à agressividade quase arrogante de Bobby Brown em 1989, mas há um tom sedutor aqui, onde você parece estar em uma conversa com Britney e, como quem não quer nada, ela se ajeita no sofá, repousa o cotovelo no encosto, olha pra você e começa com aquela intro falada. além disso, há sinceridade aqui. ela está cantando o que vive.
“My Prerogative” só pode ser cantado por quem vive.
e depois das revelações da biografia de Britney, “My Prerogative” já era um pedido nada velado dela de “me deixem em paz”, uns bons anos antes da curatela.
por fim, é incrível que dois artistas com mais ou menos 20 anos de distância conseguem conversar sobre o mesmo tema… E o futuro desses dois artistas ganha contornos diametralmente opostos, mesmo que trágicos à sua maneira.