hoje é dia de “Magia”

Marina Teixeira
3 min readFeb 23, 2025

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decidi falar um pouco sobre o álbum de Luiz Caldas que deu início ao axé

Cantor Luiz Caldas em cima de um trio elétrico. Ele está cantando, segurando uma guitarra. Está sem camisa, calça amarela com detalhes estampados. Cabelos longos e cacheados com uma franja no rosto, pele em tonalidade mais escura que a da moça à sua esquerda, backing vocal, de pele branca e cabelos lisos, short e cropped pretos e bolero na cor branca. Ao fundo, várias árvores.

imagina ter vinte e poucos anos em 1985, verão em Salvador, a ditadura chegando ao fim, e um mundo inteiro de possibilidades à frente.

imagina ter 22 anos e ser Luiz Caldas.

a axé music completa 40 anos, e só completa essa idade graças ao lançamento do primeiro álbum solo de Luiz Caldas, “Magia”, em 1985, que chegou com uma mistura nunca ouvida em outro canto do país — e a cara da Bahia: um encontro entre pop, reggae, música latina, percussão afro-brasileira, e um clima tropical, em alta temperatura, repleta de suor, que construiu o que chamamos hoje de axé music.

mas o que tinha antes do axé no carnaval?

se você for millennial e morar em Salvador — e obviamente seus pais gostarem de carnaval, pergunte a eles que músicas mais tocavam na festa no começo dos anos 80, ali antes de ’85, e provavelmente eles vão responder que era o galope e o frevo.

a coisa muda de figura em 1985, quando um cara meio andrógino, diferentão, aparece cantando e dançando ao som de algo que não parecia com nada que tinha antes.

era Luiz Caldas com “Fricote” — sim, aquela música que hoje não é cantada mais, por motivos óbvios.

o que tem em “Magia” que é relevante, além do som?

assim como a mistura de gêneros que se transforma em algo novo e vibrante, um dos aspectos mais interessantes desse álbum são as letras. como eu sou escritora, uma das coisas que eu gosto muito de acompanhar quando se trata de música são as letras, e entender se elas casam com as melodias e a vibe do álbum no geral.

em “Magia”, onde boa parte das músicas é composta pelo próprio Luiz Caldas (com contribuições de Paulinho Camafeu na seminal “Fricote”, além de Val Macambira, Carlinhos Brown, entre outros), o eu-lírico está em um perpétuo estado de tesão. isso mesmo: desde a primeira faixa, “Magia”, passando por músicas como “Visão de Ciclope”, “Sonho Bom” (onde ele sonha com uma mulher nua num balão), “Nouai”, “Contra-mão”, as músicas tratam sempre de um desejo, de sedução, de paixões prestes a serem vividas, tudo em um cenário, um ambiente, que você entender ser praia, verão, Salvador, uma juventude repleta de hormônios e disposta a fazer valer uma liberdade tão esperada — e que parece implícito esse sentimento em cada letra (e mais direcionada em faixas como “Tilintar” — que é mais viajandona; e “A Vida é Assim”).

há também o duplo sentido de “Fricote”, mas tanto esse tesão quanto o duplo sentido estão aqui a serviço de uma tradição presente na música popular brasileira desde o Brasil colônia: o perpétuo estado de tesão.

(desde as marchinhas de duplo sentido no carnaval, passando por qualquer cantor popular — Odair José, Roberto Carlos — divas da MPB como Gal Costa, roqueiras como Rita Lee, sambistas — Martinho da Vila, Alcione — até artistas atuais como Ludmilla. todo mundo está com tesão.)

por isso, liricamente falando, “Magia” se coloca como além de um álbum seminal para a criação da axé music, com sua mistura sonora e letra com ambientação de uma Bahia, de uma Salvador vibrante e cheia de energia; mas também como um álbum fundamental para a MPB, se inserindo liricamente dentro da tradição secular da nossa música sobre prazer e desejo.

como o axé atual pode aprender com “Magia”?

ouvir “Magia” em 2025, em especial considerando a longa crise de identidade do axé atual, é uma forma de se reconectar com as raízes do gênero, à complexidade musical que o próprio Luiz Caldas apresentou tão bem com tão pouca idade. ele passou o tutorial, gente, é só aprender!

mas enfim, se precisamos nos reencontrar com o som que tornou a música baiana única em relação ao resto do Brasil, é importante voltar ao início — à mistura sonora do “Magia” e as letras que ambientam o ouvinte numa Salvador mágica, ensolarada, sensual e eternamente jovem, com grandes esperanças para o futuro.

uma inspiração feita por um gênio, para retomar o caminho da criatividade musical do axé.

e aí, vocês já ouviram “Magia”? o álbum está disponível nos principais serviços de streaming.

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Marina Teixeira
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Written by Marina Teixeira

writer, journalist and anxious overthinker

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