meus favoritos do “Today’s Top Hits”
tentando me atualizar no que a juventude ouve hoje em dia…

Eu tenho 31 anos.
Confesso me sentir muito mais satisfeita e de bem comigo mesma nessa idade do que na minha adolescência, provavelmente.
Esta introdução não é apenas para dizer o quanto eu sou feliz por ter 31 anos, mas para dizer que há algum tempo eu não faço parte do público-alvo destinado para a música pop estadunidense/americana (eu vou falar “americana”, mas entenda estadunidense, costumes que a gente não consegue arrancar das rotinas). Eu era o público-alvo no final da década de 2000, ali em 2005, 2006, até mais ou menos 2010, 2011, talvez 2012? Hoje em dia, as pessoas a quem o mercado, as rádios top 40 desejam alcançar, são as pessoas que nasceram de 2000, talvez, para a frente.
Essa turma, a Geração Z, são meninos e meninas com um olhar para identificação com determinados artistas muito mais próximo do meu quando tinha 16 ou 17 anos: gostam de autenticidade, e não são tão fiéis a ideia de que só vou ouvir música dos Estados Unidos e ponto final. O K-pop é literalmente a música mais ouvida por muitos desses garotos e garotas, fortemente influenciados pelos aspectos da cultura pop coreana, incluindo os doramas. Até minha mãe assiste a doramas e sabe que boa parte dos atores das séries que ela assiste também são cantores.
Foi pensando nisso que eu decidi ouvir a playlist do Spotify chamada “Today’s Top Hits”, que traz as músicas mais populares do momento nos Estados Unidos, e geralmente as músicas mais populares do momento dentro da plataforma são um indicativo do que realmente bomba nas playlists dos adolescentes. Geralmente esse sucesso tem a ver tanto com o fandom dos artistas, cada vez mais fiel; os mutirões de audições; além do caráter viral. Se a música é viral é porque ela está no lugar chamado TikTok, o grande termômetro para verificar se uma música faz sucesso ou não. Outrora eram virais no Vine, um meme no Twitter ou no YouTube; mas hoje o que realmente garante sucesso da sua faixa é se ela vira trend no TikTok.
É por isso que Olívia Rodrigo é um dos grandes nomes da música pop atual, e é por isso também que o novo álbum de Billie Eilish, eles apesar de ter sido bem criticado, simplesmente não aconteceu entre o público que ela deveria atingir (top 10? hoje em dia um viral é top 10, mas se tornar parte da conversa cultural é outra história). É por isso que Justin Bieber, Lil Nas X e outros artistas continuam bastante populares porque eles conseguiram lançar canções que conversavam com o público do TikTok. Apesar de Drake ter lançado canções com foco em visualização nessa plataforma, eu acredito que os artistas que mais se beneficiaram da ascensão do TikTok foram Lil Nas X e Doja Cat, duas crias da internet.
Sem mais delongas, é hora de falar de música.
Doja Cat e a totalidade do “Planet Her”, terceiro álbum da moça
Charts: “Kiss me More” (peak: #3); “You Right” (peak: #11); “Need to Know” (peak: #14)
Doja Cat é uma rata de internet — dominante no Tik Tok, compreende como poucas a linguagem atual nas redes e suas músicas, apesar de terem uma duração até de acordo com a música pop contemporânea, são verdadeiros hits na plataforma. O “Planet Her”, terceiro álbum da rapper/cantora/performer do caralho, pode ser menos “pop” que o “Hot Pink” (seu grande estouro), mas tem uma coesão necessária e refrões grudentos, além de batidas feitas para viralizar naturalmente.
É só olhar as músicas mais ouvidas dela no Spotify e verificar as canções dela mais estouradas no Tik Tok: bate certinho.
Doja provou que não era um hit de estação com o “Planet Her” e se o Grammy não valorizar a mulher como ela merece, WE RIDE AT DAWN
(infelizmente, tem Dr. Lúcifer nos créditos de produção e composição)
Lil Nas X é bem mais do que um hit recordista
Charts: “Montero (Call Me by Your Name)” (peak: #1); “Sun Goes Down” (peak: #66); “Industry Baby” feat. Jack Harlow (peak: #2)
Quem achava que Lil Nas X seria apenas uma modinha de verão não tinha notado o potencial escondido nas faixas de seu EP “7”, onde o rapper mostrava versatilidade pop, senso de humor, inteligência e talento que só precisava ser melhor lapidado.
Outro viciado em internet que conhece como poucos a linguagem das redes, nessa fase pré-debut “MONTERO” (que estou curiosíssima com o material) ele foi além, tanto no som (desconstruindo ainda mais e repensando sonoridades), quanto nas letras (Nas X fala abertamente de seus relacionamentos e de sua orientação sexual) e em uma imagem cada vez mais pop e extravagante, como o bom e velho pop que a gente gosta.
Aposto que ele vai aparecer no Grammy com “Montero (Call me by your name)” e de uma coisa é certa: o ônibus pra garantir um lugar nessa premiação tá lotado!
“Good 4 U”, Olivia Rodrigo (o pop punk é o novo pop de novo?)
Charts do “Sour”: “drivers license” (peak: #1), “deja vu” (peak: #3); “good 4 u” (peak: #1); “traitor” (peak: #9); “brutal” (peak: #12)
Com a geração Z finalmente chegando à “idade adulta”, se assim podemos dizer, e envolta por diversas influências, é natural que novos artistas associados a essa geração se tornem conhecidos e ofereçam novas (ou renovadas) perspectivas musicais. Olivia Rodrigo, estrela da Disney que lançou o debut aclamado “Sour”, nos mesmos passos de “teenage angst” que fizeram a carreira de Billie Eilish, Lorde e Avril Lavigne em tempos anteriores, conseguiu sucesso, entrar na conversa cultural, polêmicas (alá o plágio hein) e suas músicas são trend no Tik Tok, o que significa sucesso instantâneo.
O que é interessante nessa ascensão de Olivia Rodrigo é que ela atingiu o sucesso tanto entre o público-alvo, obviamente, como entre muita gente fora do escopo, o que indica que sim, há potencial futuro (incluindo no som e nas letras, que naturalmente precisam de algum polimento, mas isso a experiência ajuda), e acho que a Academia está de olho.
Mas não era isso apenas que eu queria falar — e sim sobre o fato de “Sour” ter visíveis influências pop-rock e mais precisamente o pop-punk anos 2000 de “good 4 u” que lembrou tanto o Paramore — g4u talvez a música mais popular de uma tendência que muitos estão pontuando sobre o pop ter a chance de voltar à relevância perdida na segunda metade da década passada por meio dessa sonoridade.
Claro que você percebe uma tendência em colocar guitarras aqui e ali, músicas com uma vibe mais rock se destacando (como “Beggin”, do Måneskin, banda italiana que participou e levou o Eurovision este ano — aliás, Itália foi o país de 2021: Eurocopa, Eurovision, Homem Mais Rápido do Mundo, Melhor Revezamento 4x100 no atletismo…), mas para que a gente possa atestar que sim, pop rock será o momento a partir desta nova década, é necessário que outros artistas na cena também abracem e sejam abraçados pelo público. Exemplo? Billie Eilish, há dois anos “a voz da geração”, lançou um álbum novo que está demorando horrores a dar tração, e uma das músicas que parece estar respirando melhor (já vi algumas trends no Tik Tok com a faixa) é “Happier than Ever”, que tem uma virada rock no final.
Sinais… Fortes sinais?
“Take My Breath”, The Weeknd (continuando a fazer música para a trilha sonora do próximo “Scarface” que ainda nem foi feito)
Charts: peak #6
“Essa música é sobre sexo ou cocaína?”; “Essa música é sobre como Abel é um homem problemático mas mesmo assim você quer ser fodida como em um livro erótico por ele?” são as duas perguntas que provavelmente você deve se fazer quando ouve qualquer faixa de qualquer álbum de The Weeknd, que parece em estado de graça desde “After Hours” e definitivamente, “Take My Breath” mostra que o homem não conhece limites.
É tão… FODA ver um artista em pleno controle de quem é como artista, visualmente, em letra, sonoridade, tudo; e essa vibe post-disco anos 80 embebido em synths a la Giorgio Moroder é exatamente tudo que você desejaria em um mundo pós-pandemia. Sexo. Orgia. Decadência. E mais sexo.
Mas também é outra faixa que parece um portfólio de Abel para curar a trilha sonora de uma nova versão de “Scarface”, que ainda nem foi produzida. Já estou dando a dica: esse homem precisa cuidar da trilha sonora de um filme desse tipo… Ou talvez de um thriller erótico melhor do que aquela bomba de “Cinquenta Tons de Cinza”.
“Permission to Dance”, BTS (melhor que “Butter” e mais nostálgico, a fórmula parece pronta)
Chart de “Permission to Dance”: peak #1
Os meninos do BTS encontraram a fórmula do sucesso no mercado dos EUA, com as canções lançadas em inglês pelo grupo: um pop bem mais upbeat, dance-pop, um ar nostálgico, e funciona. Funciona bem, tanto que eles vivem emplacando um sucesso atrás do outro.
Confesso que eu acho as músicas na língua original dos meninos mais intrigantes, e me instigavam mais (em letra, produção, escolhas vocais), mas em time que tá ganhando não se mexe — se melhora.
“Butter” não era a minha favorita, mas eu sou muuuuito rendida por produções com uma pegada nostálgica, e “Permission to Dance”, o mais recente single do grupo, consegue ser mais interessante e gostosa de ouvir. É otimista, grudenta, gostosa, e de certa forma, você já começa a reconhecer na produção que essa é uma música em inglês do BTS. Sabe, você consegue estabelecer a diferença e uma identidade, o que em um mercado duro e difícil como o dos EUA, é essencial.
Ah sim… Acho que passou da hora da Academia fazer o que deve e premiar o BTS. Essa música é uma ótima oportunidade.
Okay okay, esse foi o resumo das músicas que andei ouvindo na playlist Today’s Top Hits do Spotify e minhas impressões como uma Millennial meio deslocada do que a juventude está ouvindo e curtindo atualmente.
Em breve voltaremos com mais reflexões. ;)