minhas favoritas do primeiro trimestre de 2023
eu tinha que ter publicado isso em abril

eu sempre fiz a linha analista das coisas, tentando entender o que tá acontecendo no zeitgeist musical estadunidense, mas confesso que ainda não entendi o que é a de 2023, musicalmente. ainda não consegui ver o que vai determinar direito o tom da nova década (tipo: década passada saiu do dance farofa e foi até a dominância do rap; na década de 2000 teve o pop, pop rock e terminou com dance farofa).
tudo me lembra do limbo 2013 (fase do disco-funk-revival, os indies e o resto de dance convivendo harmoniosamente), onde a gente não sabia bem o que estava acontecendo, mas curtia mesmo assim. ainda tem muito rap (feminino com muita força, aliás), hits do tik tok, música latina, country, acts de kpop, e no pop, Taylor Swift dominando o espaço, com alguns bons retornos, como o de Miley.
por isso, minhas músicas favoritas da lista são o reflexo da minha incompreensão e pela busca pela familiaridade, de alguma forma. por isso que duas das faixas têm sample…
nepobabies no rap também
Coi Lerai é filha do produtor, rapper e empresário do setor de mídia Benzino e já vinha lançando singles e participações especiais, além de ter aparecido no “XXL Freshman Class” de 2021 (que é uma lista dos rappers com maior potencial de estouro na indústria. Aparecer aí é sinal de prestígio — Kid Cudi, Nipsey Hussey, Big Sean, Kendrick Lamar, Iggy Azalea, Chance the Rapper, Travis Scott, Lil Uzi Vert, Anderson Paak, 21 Savage, Megan Thee Stallion, Latto já estiveram na lista). Ela lançou álbum ano passado, “Trendsetter”, e a música de maior sucesso foi “Players” (#9 na Billboard Hot 100), com um sample excepcionalmente bem usado do Grandmaster Flash and the Furious Five. a letra é bragging clássico de rappers femininas com o adicional de que “eu posso ter o que e quem eu quiser porque ‘girls is players too’”, mas quem se importa? a música é ótima e vicia.
o sample elevando a música de novo
“Creepin’” (peak #3) é uma das músicas mais chiclete do ANO, e graças obviamente a um sample bem colocado de uma música foda, que é “I Don’t Wanna Know”, do Mario. crédito de Metro Boomin, produtor de rap e trap que estourou com Bad and Boujee do Migos e trabalhou com todos que interessam, desde The Weeknd, Future, Big Sean, Nicki Minaj…
a vibe é bem sombria, triste, misturando rap e R&B, The Weeknd em um bom momento, com direito até um coral meio obscuro após o refrão e uma letra onde ele sabe que é corno… mas prefere não saber… ou não. o rap de 21 Savage coerente com o resto da música (não parece o clássico rap pago só pelo buzz) é sempre algo refreshing, mas o toque real de perfeição é o sample. tão bem feito, bem colocado, fluido, belo. o R&B dos anos 2000 era outro nível de qualidade e capacidade radiofônica.
(mentalmente pronta para “Creepin’” no Grammy, por favor)
potencial de música do ano
“Kill Bill”, single que chegou ao topo da Billboard Hot 100 da SZA, é um PETARDO. em primeiro lugar, ela não canta mais em itálico (obrigada); segundo: a artista continua sendo uma puta cronista da vivência de muitas mulheres negras jovens, tal e qual as sensações vividas por muitas que ouviram as faixas de seu primeiro álbum “CTRL”. aqui, com as guitarras, a linha de baixo definida e guiando a música num caminho meio retrô que torna a faixa atemporal; e a letra GENIAL elaborando a raiva e o ciúme por parte do eu-lírico em ver o ex e a namorada a tal ponto que dá vontade de tomar decisões extremas, é um trabalho que reflete novamente a sinceridade, franqueza e a expressividade de quem fala o que pensa, o que sente, e não se preocupa com as consequências.
quando dizem que o R&B contemporâneo está em boas mãos quando SZA é uma de suas maiores representantes, é porque é verdade. produção com potencial de favorita pra Canção e Gravação do Ano no Grammy 2024.
se vocês querem saber que outras músicas eu andei ouvindo de janeiro a abril/maio de 2023 (este post cobriu apenas janeiro-março), é só conferir a playlist how do you do, fellow kids